Com grande economia de recursos, “A Obscena Senhora D” é um texto poético que encena a mudança de uma mulher de sessenta anos que se decide a viver num vão de escada, onde peregrina em busca do sentido das coisas.

Neste espaço mínimo, ela revive a perplexidade tocante do amante dedicado, recentemente falecido, que não pode compreender as suas recusas do bom-senso, do sexo, da vida simples e amena em favor de uma especulação que supõe delirante e vã. Além disso, a senhora D recebe ainda no próprio corpo a violência e o ódio estupidificado da vizinhança, que não tolera o seu abandono das roupas e dos lugares-comuns, nem o seu desinteresse pelos acontecimentos que a rodeiam.

Quando aparece uma grande porca em chaga no esconderijo, o seu susto torna-se finalmente compreensão.